Nutracêuticos no Gerenciamento do Envelhecimento: Evidências Científicas




O envelhecimento é um processo complexo e multifacetado que envolve uma variedade de mecanismos moleculares e sistemas celulares inter-relacionados. Fenotipicamente, o processo de envelhecimento biológico é acompanhado por uma perda gradual da função celular e pela deterioração sistêmica de múltiplos tecidos, resultando em suscetibilidade a doenças relacionadas ao envelhecimento. Evidências emergentes sugerem que o envelhecimento está intimamente associado ao desgaste do telômero, danos ao DNA, disfunção mitocondrial, perda dos níveis de nicotinamida adenina dinucleotídeo, macroautofagia prejudicada, exaustão de células-tronco, inflamação, perda do equilíbrio proteico, detecção desregulada de nutrientes, comunicação intercelular alterada e disbiose. Essas mudanças relacionadas à idade podem ser aliviadas por estratégias de intervenção, como restrição calórica, melhor qualidade do sono, atividade física aprimorada e genes de longevidade direcionados.

Nos últimos anos, a busca por intervenções que retardem ou minimizem os efeitos do envelhecimento tem ganhado destaque na medicina preventiva e na saúde pública. Nesse contexto, os nutracêuticos — compostos bioativos encontrados em alimentos que possuem benefícios além da nutrição básica — emergem como alternativas promissoras no gerenciamento do envelhecimento.

Os nutracêuticos incluem vitaminas, minerais, antioxidantes, polifenóis, ácidos graxos e outros compostos que atuam em diferentes mecanismos celulares, como redução do estresse oxidativo, modulação inflamatória e melhora da função mitocondrial. Estudos recentes têm investigado como esses compostos podem contribuir para a prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, além de melhorar a qualidade de vida geral.

Este artigo visa analisar as principais evidências científicas sobre a eficácia dos nutracêuticos no gerenciamento do envelhecimento, com foco em revisões sistemáticas, meta-análises e ensaios clínicos. Além disso, discutiremos os desafios e perspectivas futuras para a implementação de nutracêuticos em práticas clínicas.

Estudos planejados e ensaios clínicos têm demonstrado que compostos como resveratrol, curcumina, ômega-3 e coenzima Q10 possuem efeitos positivos em marcadores de envelhecimento. Por exemplo, o resveratrol, encontrado em uvas e vinho tinto, é conhecido por suas propriedades antioxidantes e por ativar a via da sirtuína, associada à longevidade celular.

Mecanismos de Ação dos Nutracêuticos

Os nutracêuticos atuam por meio de diversos mecanismos celulares que podem retardar o envelhecimento. Entre esses mecanismos, destacam-se:

  • Redução do Estresse Oxidativo: Antioxidantes neutralizam os radicais livres, prevenindo danos celulares.
  • Modulação da Inflamação: Compostos como curcumina e ômega-3 possuem propriedades anti-inflamatórias, reduzindo inflamações crônicas associadas ao envelhecimento.
  • Regulação da Função Mitocondrial: A coenzima Q10 é essencial para a produção de energia mitocondrial e pode melhorar a função celular em idosos.
Portanto, é um pré-requisito importante entender as características fisiológicas do envelhecimento e seu mecanismo molecular em estágios específicos da vida e estados fisiológicos.
No artigo de Yumeng Li et al  2024, os autores apontam estratégias 

antienvelhecimento e dentre está a utilização de compostos sintéticos ou naturais de pequenas moléculas para serem ativas no retardo do envelhecimento. A tabela abaixo foi retirado deste artigo e aponta produtos naturais de polifenol e seus efeitos

Classe senolítica

Alvo molecular


Extrato natural de polifenol

Quercetina, Piperlongumina e análogos, Fisetina, Curcumina, Procianidina C1, Gingerenona A

Promover a apoptose de células senescentes, comunicação intercelular, autofagia, alterações metabólicas


Inibidores de quinase

Dasatinibe, Nintedanibe, R406


Inibidores da família BCL-2

ABT-263


Inibidores de proteína de choque térmico

17-DMAG e outros inibidores de HSP90, 25-hidroxicolesterol


Degradadores de proteínas da família BET

ARV825, I-BET151, I-BET762, JQ1, OTX015, PFI-1JQ1


Estabilizadores P53

RG-7112, inibidores USP7 P5091 e P22077


Esteroides cardíacos

Bufalina, cinobufagina, convalatoxina, digoxina, ouabaína, peruvocida, proscillaridina A


Agonistas PPRα

Fenofibrato


Antibióticos

Azitromicina, roxitromicina


Perspectivas Futuras

O futuro das pesquisas com nutracêuticos no contexto do envelhecimento inclui a realização de estudos mais robustos, com amostras maiores e metodologia padronizada. Além disso, o desenvolvimento de nutracêuticos personalizados, baseados no perfil genético e nas necessidades individuais, pode ser uma tendência promissora.

Implicações Clínicas

Os nutracêuticos podem complementar as intervenções tradicionais no gerenciamento do envelhecimento, mas sua implementação em práticas clínicas requer orientações baseadas em evidências e regulamentações específicas.

No geral,  sugere-se que produtos dietéticos/naturais aumentam a expectativa de vida saudável — em vez da expectativa de vida — minimizando efetivamente o período de fragilidade no fim da vida. No entanto, ensaios clínicos em cenários do mundo real e estudos básicos sobre suplementos dietéticos e produtos naturais são ainda mais necessários para demonstrar decisivamente se produtos dietéticos/naturais podem promover a expectativa de vida humana (CHEN, Ye et al. ,2022)


Conclusão

Os nutracêuticos representam uma ferramenta promissora no gerenciamento do envelhecimento, com potencial para melhorar a qualidade de vida dos idosos. Embora as evidências científicas atuais sejam promissoras, há necessidade de mais pesquisas para validar sua eficácia em longo prazo. A integração de nutracêuticos em práticas clínicas deve ser feita de forma cautelosa, garantindo segurança e eficácia para os pacientes.


PERES, Isabella SA et al. Sangue de Dragão: propriedades antioxidantes para nutracêuticos e farmacêuticos. Rendiconti Lincei. Ciência Física e Naturali , v. 1, pág. 131-142, 2023.

ANAND, Shaubhik; BHARADVAJA, Navneeta. Benefícios potenciais de nutracêuticos para o gerenciamento do estresse oxidativo. Revista Brasileira de Farmacognosia , v. 32, n. 2, p. 211-220, 2022. 

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